sexta-feira, dezembro 26, 2014

O Rescaldo e a partida para a Serra

Prestes a tomar o rumo da "mais alta" (do Côtenente!) faço com os amigos o rescaldo da noite de 24 e do dia de ontem.

A santa mãe amuou porque não lhe fiz o bacalhau com as couves. É engraçado que quando questionada dias antes disse que não o desejava...Mistérios da 4ª idade. A santa tia acha tudo bem, come e faz sempre boa companhia. Bem haja.

Na Garret foi engraçado medir a cauda da fila e comparar com as dos anos anteriores. Os "habitués" da velha pastelaria resguardam-se sempre nestas ocasiões com o truque da "encomenda". Para além do bolo-rei ou rainha, a encomenda exige que se leve mais qualquer coisinha. Mas a vantagem é entrarmos directamente para a sala das "encomendas" , evitando assim a fila para o bolo-rei. Neste ano pareceu-me ser a fila um pouco mais longa do que no ano passado.

Não posso garantir, mas lá que me pareceu, isso pareceu...

Pelas 7,30h o último dos  "esperantes" já aguardava na curva da rua, lá em cima depois da porta do "Saloio".  E a Garret só abre às 8.00h.

Nota: A "Quinta do Saloio" é uma das melhores mercearias de luxo  da linha.

O Amigo Casaleiro fecha a 26 e 27, como contrapartida das noites em branco à frente dos fornos.

 Por isso muita gente se avia até ao dia de Ano Novo. Como a santa mãe amua sempre que não vê a mesa cheia de doces, lá tive de esportular uns bons euritos. Para 4 gatos-pingados comerem.
Enfim...
Mas estou a chegar à idade em que não aturo dois amuos no mesmo dia (ou noite), vindos de  onde vêm.

Parto para a Beira Alta com alguma preocupação, Mas é esta aquela situação em que saímos da frigideira quente para o meio da panela que está ao lume... Com anciãs nos dois lados, e em estado de saúde mais complicado, cabe ao blogger equilibrar a sua vida numa situação de compromisso entre o Estoril e São Martinho.

Outra preocupação, menor obviamente, é que a recepção de rede para enviar estes Posts e receber os mails está cada vez pior lá na Serra da Estrela. Pelo menos para quem usa banda larga da MEO.

Se as costumeiras Crónicas da Serra não se fizerem notadas não é por preguiça, mas sim por traição da tecnologia.

No Ano Novo a grande decisão será em redor da ementa: cozido à portuguesa com os enchidos caseiros lá da quinta ou o cabrito assado que me ficou atravessado neste Natal?

Lá mais para o dia 30 tomarei a decisão. Autocraticamente, pois claro, porque uma das vantagens de um gajo chegar aos 60 com algum juízo é poder decidir sem passar cartão a ninguém...

Mas sobre isto tudo ainda falaremos (ou melhor, falarei). Desde que a "rede" o permita.

Continuação de muito Boas Festas para todos. Saúde e dinheiro para trocos!

Como nos disseram ontem que "Este Natal é o primeiro de há muitos anos em que não há nuvens negras no horizonte", pode ser que o "dinheiro para trocos" signifique mais largueza de gastos das desgraçadas famílias. Mas neste caso estou como o velho São Tomé: Ver para crer.

terça-feira, dezembro 23, 2014

As Festas

É suposto que todos temos de partilhar nesta altura do ano o famoso "Espírito de Natal".

Mesmo quem não sinta muito essa toada de "paz e amor" na sua vida de todos os dias. A Consoada  e o almoço de Natal,  embora pobrinhos, se forem passados com a família ao redor acabam sempre por trazer algum conforto aos que deles partilham.

Esta é a teoria oficial do politicamente correcto. Nada tenho contra quem assim pensa, mas para mim  não é esta uma quadra que me agrade por aí além.

Razões históricas (a Natália faleceu a 28), mas também razões mais práticas. Sem crianças em casa -  a quem dedicamos sempre mais tempo e mais alegria nestes dias - o que se pode fazer à volta de duas anciãs a bater nos 85?

Dar-lhes o bacalhauzinho da Consoada logo ao almoço do dia 24, pô-las a verem por algumas horas o programa favorito das TV's (será o Natal dos Hospitais?) e, em tendo elas abandonado a casa para se irem deitar logo pelas 7 da tarde, lá ficamos eu e o meu senhorio a ver algum filme antes de irmos também nós para a cama, porque no dia de Natal a azáfama na cozinha começa bem cedo.

Lá para cima, para a quinta, ainda será mais solitária essa noite, O meu cunhado e a minha sogra a olharem um para o outro e a lembrarem-se quando aquela mesa (que senta 10 pesooas) estava cheia de gente e de boa disposição nesta altura do ano.

Iremos ter com eles para o Ano Novo, mas mesmo dobrando a audiência não deixamos de ser apenas 4...

Que estas reflexões não deixem os meus amigos de passarem um Santo Natal, na companhia de quem mais gostam. E se por acaso tiverem que aturar nestas dias alguém menos "afável" e cuja companhia bem dispensavam, não se esqueçam do tal "espírito de Natal" com que começei a crónica. Façam o sacrifício por uma noite (ou duas).

Sogras e sogros, noras e genros? É Natal. Até cães e gatos devem fazer um esforço para se aturarem por algumas horas.

Por mim já decidi que passaremos a noite do dia 24 a fazer uma maratona de Downton Abbey. Parece que o G. Clooney é artista convidado no episódio de Natal.  Pena a mulher também não ter vindo...


sexta-feira, dezembro 19, 2014

Para Descansar a Vista

Em louvor de Cuba , do seu povo, da sua história, dos ideais que quase todos compartilhámos quando éramos (mais) novos. Em louvor desta trégua e paz.

Embora com alguma desconfiança "à cause des puros" - com receio que o USD tome conta dessas ocorrências num futuro próximo e deixe apenas as sobras para nosotros.

De todas as  formas e como pareceria de um egoísmo extremo estar a assombrar estas notícias magníficas por causa de um vício*, aqui vos deixo Roberto Fernandez Retamar .

*Nota: Fumar um cubano  de quando em vez será ainda um vício que mantenho, mas raro, muito raro atendendo à crise que atravessamos. Nem lhe chamaria já uma "adição", mais uma "subtracção" onde, de vez em quando, lá somamos uma parcela em dia de arco-íris. Nem todos podemos ser Álvaros Sobrinhos...

Bio de Retamar por cortesia de Virgilio Lopez Lemus: Começa a carreira literária em 1950, com  Elegía como un himno (1950). 
Em 1952 edita Patrias e em 1955 Alabanzas, conversaciones. Reconhecido como um ensaísta de talento, esteve sempre entre os mais importantes criadores de sua geração. Vuelta a la antigua esperanza (1959) é um livro do coloquialismo, corrente que se expressa com mais intensidade em Con las mismas manos (1962), Historia antigua (1964), Que veremos arder (1970), Circunstancia de poesía (1977), Juana y otros poemas personales (1981), Hacia la Nueva (1988), entre outros. Agrupou quase todos seus poemas em Poesía reunida (1966) e no livro mais destacado Palabra de mi pueblo (1980). Em 1989  recebeu o Prémio Nacional de Literatura.
 
FELICES LOS NORMALES
Felices los normales, esos seres extraños.
Los que no tuvieron una madre loca, un padre borracho, un hijo delincuente,
Una casa en ninguna parte, una enfermedad desconocida,
Los que no han sido calcinados por un amor devorante,
Los que vivieron los diecisiete rostros de la sonrisa y un poco más.
Los llenos de zapatos, los arcángeles con sombreros,
Los satisfechos, los gordos, los lindos),
Los rintintín y sus secuaces, los que cómo no, por aquí,
Los que ganan, los que son queridos hasta la empuñadura,
Los flautistas acompañados por ratones,
Los vendedores y sus compradores,
Los caballeros ligeramente sobrehumanos,
Los hombres vestidos de truenos y las mujeres de relámpagos,
Los delicados, los sensatos, los finos,
Los amables, los dulces, los comestibles y los bebestibles.
Felices las aves, el estiércol, las piedras.
Pero que den paso a los que hacen los mundos y los sueños,
Las ilusiones, las sinfonías, las palabras que nos desbaratan
Y nos construyen, los más locos que sus madres, los más borrachos
Que sus padres y más delincuentes que sus hijos
Y más devorados por amores calcinantes.
Que les dejen su sitio en el infierno, y basta.
(De: Historia antigua - 1962)

quinta-feira, dezembro 18, 2014

O incómodo das peruas no Natal

As peruas ( e esposos) sofrem mais no Natal do que nas outras épocas do ano.
Penso que todos conhecem aquela anedota em que um bando de perús vem para a rua em solene manifestação, trazendo um cartaz onde se lia:
" É Natal! Jesus comia peixe!"

 Na véspera ainda lhes damos algum crédito, mas quando se trata do dia 25 não consta que se tenham safado. Eu próprio até já partilhei aqui  uma receita para melhor se tragarem estes galinácios nesta época festiva.

Todavia, não é às peruas com penas que me quero referir.

Nem sequer às outras "peruas", às que são primas das "cadelas" e que decorrem do exagerado consumo de liquidos nesta época do ano, embora o assunto também mereça um Post dedicado.

Falo das "outras" peruas que tenho lá por casa e que aproveitam a minha disponibilidade para pedirem boleia e "irem às compras" nesta época .

Quando a minha santa ainda se enxergava era mais fácil. Eu metia-a dentro da superfície comercial, punha-lhe um carrinho nas delicadas mãozinhas, dava-lhe um prazo para "ir às compras" e combinávamos um lugar onde a fosse buscar, 2 horas depois.

Neste momento - e por culpa dos governantes que introduziram a nova moeda em 2000 - a santa já não dá conta do recado sozinha. Preciso de andar sempre atrás dela para lhe dizer quanto custam as coisas em "escudos e contos".

Ainda hei-de acabar esta quadra a concordar com o MRPP : "Portugal tem de sair do Euro! Já!".

Dir-se-ia que se a minha santa fosse acompanhada pela irmã - um ano mais nova, e com uma cabeça melhor do que  a dela ( e do que a minha!) para as contas - tudo se resolveria.... Mas não. Elas não gostam de andar juntas nestas altura do ano, com medo que "se a outra visse o que eu comprava ia logo atrás comprar o mesmo também".

E tratando-se de irmãs que vivem a metros uma da outra, as criaturas a quem dão presentes são sempre as mesmas, o que traria algum incómodo quando as recipentes da bondade alheia verificassem que estavam a receber o mesmo presente em dobra.

Atendendo a estas restrições, cabe ao desgraçado do Blogger resolver a quadratura do círculo: Ir com as duas, depositá-las no mesmo local, andar atrás da mais velha para que ela não compre uma caixa de bombons por 70 euros pensando que eram 70 escudos, mas nunca deixando de ter um olho nas andanças da mais nova, que apesar de ter boa cabeça para as contas já não se entende muito bem com os códigos das balanças para pesar a fruta e os legumes.

Sim, porque encontrando-se ambas no Hipermercado não mercam apenas os presentes. Isso é que era bom!! Leva cada uma o seu carrinho carregado de todas as outras coisas que entendem necessárias, desde o leite às alfaces.

Onde é que estas anciãs nos idos dos 80's metem tudo aquilo que compram carago??!! Todos os fds têm de se abastecer... Mistério que me recuso a investigar com receio de descobrir alguma verdade incómoda, tipo uma arrecadação a tresandar a podre, cheia de tudo o que compraram mas não utilizaram. Ou então dão guarida lá em suas casas a um pelotão fugido à guera do Afeganistão...

Na óptica dos meus leitores trata-se de uma manhã mais chata por ano para mim, sem dúvida, mas , há que ter paciência, não é?

Pois é...Se fosse uma manhã apenas. Ando nisto desde que entrou o mês de Dezembro. Pelas minhas contas já são 3 fins de semana.  E ainda falta um importante detalhe: as flores para o cemitério!! Já que os falecidos também têm direito ao Natal, no entendimento "peruano".

Dessa Via Sacra me ocuparei no dia 20.

Depois disto tudo acho que mereço um cubano e um belo whisky de malte na noite de Natal, sozinho com o meu senhorio no conforto do meu sofá.

Mas já nem sei se isso está garantido, amigos.

 Cuba está a fazer as pazes com os USA!!  Magnífico!! Que bela notícia de Natal e para todo o ano!!

Mas  reparem nisto:  sendo muito bom para quase tudo, tem um senão... Quando o embargo acabar para onde é que V. acham que vão voar os meus ( salvo seja) "puros"?? E a que preçozinho vão chegar aqui ao rectângulo?

Exactamente... Ainda não tinham pensado nisso?

Arriba Cuba! Y Raul , amigo, no vendas todos los habanos a los  hermanos Yankees!  Si non ainda te f*** (te prejudicas) comigo y los otros lusitanos (Partáguas!).

segunda-feira, dezembro 15, 2014

Adaptações e Prioridades

Como de costume hoje de manhã passei pela Versailles. A única diferença foi que tinha  dois bolos-rei já previamente encomendados , um mimo que faço aos colegas nesta quadra.
Hoje para o Báltico, no dia de reis para a João Saraiva, onde o início do balanço não aconselha que seja agora.

Um dos arrumadores que costuma estar de serviço à porta da clássica pastelaria foi neste momento promovido a ajudante dos proprietários do meu quiosque de jornais e revistas. Acarta os molhos de jornais, arruma as revistas, ajuda a abrir a porta do veículo da VASP, etc, etc...

Pensava eu que ele tinha arranjado outro trabalho, quando logo que me viu dirigiu-se a pedir a moedinha do costume.

-" Oh Amigo, então V. não ajudou a estacionar! Estava a arrumar jornais!"
-"Nos outros dias também não ajudo e o Senhor dá sempre..."
- "Não ajuda mas ao menos faz a parte!"
- " Olha! Já tem o senhor chegado primeiro que eu e depois dá a moeda!"
- "Então mas isto é pagamento de serviços ou esmola?"
- "Qualquer coisa serve, desde que dê a moeda..."

No que tinha o homem inteira razão. Para quê estarmos a filosofar sobre as causas se as suas consequências são as mesmas?

A placa do meu fogão - antiga e boa, 5 bicos protegidos com ferro forjado - deu o corpo ao manifesto. Tem bicos que já não mantêm o gás aceso, tem outros que devem estar entupidos.
A placa é fundamental durante todo o ano, mas então agora nem se fala.

No Sábado passado,  e com medo  das compras de Natal  ( suplício que todos temos que passar), estava logo de manhã à porta da Loja que dava apoio técnico à marca da minha placa.

Os clientes que se dirigiam aos balcões para falar de assistência técnica eram atendidos por ordem de chegada, mas parecia haver pouca gente nesse serviço, e a única senhora que havia nada percebia. Questionada , o que disse foi que:

-  " Estou aqui por necessidade, não sou especialista. Os especialistas na assistência técnica são dois. Um está doente e o outro de férias".

Como iamos dizendo que não parecia ser a melhor altura para irem de férias, a amável e jovem senhora retorquiu:

-"Sabe, nesta altura do ano o que queremos é vender... Assistência técnica pode esperar para Janeiro".

Todos entendemos.

Os "especialistas na assistência técnica" deviam mas era estar ao balcão a vender! Qual doença e quais férias!

Se eu quisesse comprar uma placa nova estava já ali quem me explicasse tudo!

E quem os pode criticar?



sexta-feira, dezembro 12, 2014

Para Descansar a Vista

Recorro mais uma vez a meu mestre Eugénio de Andrade. Esta sexta feira de nevoeiro lembrou-me o primeiro tema. Ao qual acrescentei um belíssimo poema de solidão, também ele adequado a este Inverno do nosso descontentamento.

E é Natal... Mas só a 24. Talvez esse seja o problema.

Passamos pelas coisas sem as ver

Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos como animais envelhecidos;
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos:
como frutos de sombra sem sabor
vamos caindo ao chão apodrecidos


Eugénio de Andrade

As palavras que te envio são interditas

 As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma  regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.

Eugénio de Andrade

 

quinta-feira, dezembro 11, 2014

Perú ou Cabrito?

Falsa questão. Sempre o cabrito pois então!

A não ser que alguém possua  meios para criar  perús livremente no campo, alimentados a milho, alfaces e couves, vadiando alegremente pelos prados?

Não têm desses? Então façam um favor a toda a gente lá de casa e atravessem-se pelo Cabrito...

Dito isto, por motivos que se prendem com a necessidade das minhas anciãs cá de baixo ("velhas" nesta quadra parece mal, e "santas" não lhes chamo enquanto me lembrar da última partida que me fizeram) viverem em boa harmonia comigo e com o senhorio, este ano terei de assar um perú... A decisão foi tomada por ambas, tendo em atenção que:

- "Tu (eu) depois vais-te embora para a quinta e do cabrito não sobra nada! Ao menos com perú  ficamos com sandes para vários dias!".

Lógica inatacável...

Para assar um perú (conhecido nos meios entendidos como o McDonald's circulante) que tenha nos pratos  um mínimo de sabor e que disfarce tanto quanto possível a ração e a farinha com que foi alimentado, há apenas duas opções.

Ou compramos no El Corte Inglês (encomendando) um perú de criação biológica, segundo parece oriundo da Herdade alentejana do Freixo  do Meio:
http://www.herdadedofreixodomeio.com/pt/component/content/article/70-perus.html

Ou então há que utilizar a imaginação (com resultados as mais das vezes sofríveis, mas melhores do que nada).

Assim, aqui vai uma proposta que parte do princípio que temos um perú inteiro, com os seus miúdos.

Depois do peru arranjado e bem limpo, esfrega-se com vinho branco e cortam-se  as extremidades das patas e o pescoço. Coloca-se o peru num alguidar coberto com água fria, sal (1kg) ,  laranjas e  limões ás rodelas. Deixa-se ficar assim de um dia para o outro.
No dia seguinte, escorre-se e enxuga-se com um pano de modo a ficar bem enxuto.
 
Temos entretanto já preparada uma pasta de barrar feita com massa de pimentão, alhos, cebola , pimenta preta, sal e azeite.  Os alhos e as cebolas são levados à máquina de triturar  (1,2,3) e depois temperados com os outros ingredientes numa tigela funda. Com a mão passa-se esta pasta por todo o peru. 
 
À parte, partimos para outra tigela  250g de pão alentejano de trigo em bocados, que se envolve em 3 ou 4 ovos inteiros. Juntamos 150 g de presunto cortado em pedacinhos, um patê de foie gras que tenha pelo menos um "arremedo" de trufas , os miúdos que foram alourados em azeite, picados ou partidos finos . Mexam bem com o molho que ficou na frigideira de alourar os miúdos, de forma a  ficar um preparado homogéneo.
 
Enche-se o peito do peru com este preparado, calcando para que fique bem cheio, e fecha-se a  a abertura com agulha e linha .

Vai ao forno quente por umas 2 horas a 2 horas e meia. Na altura de tirar deve ser "apresentado" a uma corrente de ar fria para se "constipar", ficando a pele crocante.


Costumo acompanhar este Perú com batatas fritas aos cubos e grelos salteados de nabo.

Mesmo que o sabor final  não seja entusiasmante para gastrónomos exigentes, ajuda muito se o acompanharmos com um Tinto "à maneira"!

Três opções "capitalistas":
 - Quinta da Leda 2011 (magnífico Tinto do Douro de um ano excepcional! Cerca de 37 euros...)
 - Dão Quinta da Pelada , Álvaro Crasto, 2011 (idem, idem para o Dão, cerca de 28 euros...).
 - Quinta do Mouro Tinto de 2008, alentejano de Estremoz. Custará cerca de 35 euros.

Baratas são carochas? É bem certo...

 Mas ainda há outras possibilidades, com relevo para uma, que descobri por acaso e me entusiasmou. O Vinha do Mouro 2011 (também ele do Dr. Miguel Louro) que não chega aos 6 euros! Muito bom!

Nota: quem não gosta de perú mas é obrigado a tê-lo na mesa, faça como eu. Coma pouco da ave e passe logo para um pratinho de queijo da serra a escorrer, com pão quente. Tem é que manter perto de si um vinho tinto em condições! Isto não é negociável!

terça-feira, dezembro 09, 2014

Os Brancos do Tramagal

O vosso Blogger não deu em racista tardio. Apesar do título.

O que está em causa são os vinhos brancos da região do Tramagal, que já foi berço de industria muito importante ( a clássica metalúrgica Duarte Ferreira) e hoje apresenta  uma inexorável asfixia laboral, remetendo-se aos serviços (poucos) e retomando a vocação agrícola que era dos seus bisavós.

Nada de extraordinário. Nas terras pequenas deste país por norma não há trabalho, por isso são pequenas (dirão alguns). Na retoma da actividade agrícola que se verifica um pouco por todo o lado como forma de fazer face à crise, a Vila do Tramagal encontrou algum lampejo na vinicultura.

A  empresa  Casal da Coelheira , com  Adega  na Estrada Nacional 118, possui vinhos premiados, como o Casal da Coelheira Reserva e DOC, Terraços do Tejo e, mais recentemente, o Mythos e o Casal da Coelheira Rosé 2009 (premiado como melhor Rosé do mundo em Bruxelas, no ano de 2010).

Devo confessar que os tintos desta região nunca me convenceram nos chamados "topos de gama".  Um destes é o Mythos, feito apenas em anos excepcionais a partir de Touriga Nacional e Franca , e de Cabernet. O último que bebi foi o de 2007. Apesar das críticas muito favoráveis do Amigo João Paulo Martins (que lhe atribuíu 17 pontos em 20), achei-o com fruta demasiado "madura" e a madeira proeminente, quase doce na boca...

Agora já por aí se encontra à venda o de 2011, e pode ser que este ano abençoado tenha estendido a benção ao vinho. Custará cerca de 16 euros no local e nas Garrafeiras talvez vinte e picos...

Mas do que gosto, sem reservas, é o Branco Reserva (neste momento em venda está o de 2013) feito à base de Chardonnay com um pouco de Arinto. É um branco notável, de relação qualidade preço muitíssimo boa (custa menos de 6 euros). A maçã da Chardonnay casou muito bem com amadeira , originando um vinho com alguma complexidade, mas ainda assim bem fresco na boca. E que, na minha opinião, vai melhorar com a idade.

Veremos quando o provar daqui a alguns anos.

A tradição do Tramagal em vinhos brancos é muito antiga. Já o saudoso Dr. Chambel, do Fórum Prior do Crato, acreditava nesse binómio do Ribatejo em brancos.  Cooperativa de Almeirim, Alorna (que nos deu um magnífico espumante há uns anos atrás), mesmo até ao  Sardoal, com a Quinta do Vale do Arno, eram famosas pelos brancos de Fernão Pires, casta rainha naquela zona.

E mesmo nos tintos "normais", se não quisermos sinfonias e cantatas à moda do Douro, para o dia-a-dia, há propostas bem honestas a preços muito razoáveis naquela zona.

Tintos bons para o bacalhau, assado ou em arroz de línguas, para as migas de couve com sável, para acompanhar a morcela de arroz e os maranhos da Sertã. Sem falar na Rainha Dona Lampreia...

Aqui em Lisboa, passe a publicidade, encontram-se por vezes bons Maranhos (encomendando, pois os proprietários são da Região) e um excelente Bacalhau Cozido com todos (segundas feiras), no Restaurante " Tertúlia do Paço", a Telheiras.

sexta-feira, dezembro 05, 2014

Ovos mexidos à Maluco (Je)

O meu mestre António Mendonça (Beira Mar e Monte Mar) foi um dos que se encarregou da minha "endoutrinação" na prática da cozinha, assim que - mau fado nosso e dela - a minha mulher partiu.

Eu tinha sido criado por tias velhas que sabiam cozinhar muito bem. Meu Pai também se ajeitava à frente dos tachos, fruto dos ensinamentos maternos. A Natália já cozinhava para 10 pessoas lá na quinta, ainda não teria 15 anos... E eu, bem criado e bem casado, aproveitava que me fartava (o que ainda hoje se nota).

Minha Mãe, infelizmente, nunca soube estrelar um ovo  e o vosso blogger sempre entendeu que, neste aspecto, saía à mãe (salvo seja).

Na altura da nossa crise familiar Mestre Mendonça ensinava, eu ia aprendendo. O que me preocupava por vezes era a falta de tempo, durante a semana, para me dedicar à cozinha. Quem começa necessita de mais tempo, e  apenas a experiência dá desembaraço.

Uma das primeiras coisas que aprendi foram uns ovos mexidos com alguns ingredientes que os faziam destacar do vulgar de Lineu. Mendonça chamava a isto "comida de p****", mas como isto é um Blogue decente, em vez disso chamei-lhes "ovos mexidos à Maluco". Sendo de referir que o maluco sou eu, e não quem mos ensinou a fazer!!

Digo isto e sublinho, para ver se me cabem algumas perdizinhas à Beira Mar ainda este ano...

Os ovos devem estar à temperatura ambiente, bem assim como um pouco de leite gordo.
Cortamos em bocados pequenos uma cebola e três ou quatro dentes de alho. Tomates cherry devem também estar já lavados e cortados ao meio. Deitamos para uma tigela grande os ovos (3 por pessoa) juntamente com sal, pimenta e uma colher de sopa de molho de tomate (gosto de Barilla). Batemos , contando 100 golpes de garfo.
Depois de batidos juntamos a cebola, os tomates cherry e o alho e envolvemos bem.

Numa frigideira de bom tamanho e com bom azeite alouramos um chouriço cortado aos pedacinhos  (de porco preto custa 2€ no Tio Belmiro, marca branca).
Em estando o chouriço alourado juntamos o conteúdo da tigela à frigideira e vamos mexendo até os ovos fritarem, mas sem deixar queimar.



Vai na frigideira para a mesa, salpicado de salsa. Onde deve estar bom pão (que será o único acompanhamento). Único, não, porque um copo de tinto faz sempre boa companhia.

Ao longo dos anos evoluí dos ovos mexidos à p*** para outras coisas. Nesta aprendizagem muita gente sofreu, destaco o meu senhorio (coitado) mas também os amigos Alves, que ainda hoje se devem lembrar das "batatas Cabo da Roca" que se viram negras para chegar à mesa do bacalhau...

Depois triunfou o ADN. Minha bisavó Jerónima foi cozinheira de El-Rei D. Carlos, no Palácio de Queluz , e  seu marido, meu bisavô João da Cruz, era carteiro no Murtal e no Estoril. Nasceu em 1853, na data de emissão do 1º selo português.

Eu teria inexoravelmente de ser o que sou hoje...


quinta-feira, dezembro 04, 2014

O regresso do Tollan?

Estive ausente uns dias a tratar de algumas emergências familiares, primeiro na Beira Alta, agora cá por baixo. São as minhas "santas" a dar trabalho... mas neste caso foi maior o alarme lá para cima.

Entretanto houve o Congresso do PS (bom, bem concluído com um discurso à antiga socialista portuguesa), o Sr. Engº José Sócrates descobriu uma veia epistolar que só fica bem a aprendizes de filósofos, e a velha cidade de Évora recebeu mais uma atracção, depois do Fialho, da Tasca do Oliveira, da Sé Catedral e demais monumentos.

O homem das farturas e a senhora das sandes de couratos já pensam em executar o franchising das respectivas roulottes, por forma a que não deixem de estar no novo local da moda "passeante" lusa, sem abandonar a sede , no Estádio da Luz (onde o negócio já foi melhor)  ou no Estádio de Alvalade (onde o negócio nunca foi assim tão bom).

Está criado um novo fenómeno semelhante ao do Tollan. Quem se recorda das tardes de Sábado e de Domingo, quando os nabos lisboetas com as  suas alfaces pelo braço, "iam ver o Tollan"? Estou a ficar um bocado ginja...

Esta "moda" aconteceu entre 1980 e 1983 ( acho eu). Tratava-se de um porta-contentores inglês que foi abalroado no Tejo, virou-se e ficou por ali anos a fio, sem que ninguém o conseguisse  voltar a pôr a flutuar . Deu origem a anedotas, baptizou cafés e restaurantes , etc, etc...

A cadeia de Évora arrisca-se a ser o "Tollan do Sócrates". Pelo menos as TV´s não arrancam pé da porta da esquadra (digo, da porta da cadeia).

Entretanto o Sr. Governo lá continua a sua vidinha, muito satisfeito porque o impacto mediático se tem desviado para outras freguesias. Que grande taluda de Natal lhes saíu!

Por mim, estou muito curioso por saber dos resultados das sondagens eleitorais nacionais, depois do efeito Sócrates e  do efeito António Costa no Congresso do PS.

Arrisco dizer que, apesar das vozes e das nozes, não mudou assim tanto o sentido de voto dos tugas...

Mas esperemos para comentar com toda a propriedade!

"Toda a Propriedade" não, que ainda pensa a AT que estou carregado de prédios, andares, vivendas e quintas...

Altero a frase: "Comentarei na posse da informação de carácter público, que for veículada pelos MCS, sem ter sido obtida através de fontes duvidosas,  em confissões forçadas, por meios enganosos ou escutas telefónicas, aprovadas ou não por Juiz de Direito".

(Acho que não me esqueci de nada?).