terça-feira, outubro 25, 2016

Comida de conforto



Um destes dias estava de candeias às avessas com a vida e precisava muito de conforto.

O conforto que posso obter nesta altura do campeonato tem mais a ver com comes e bebes do que com outra coisa qualquer.  Daí ter decidido almoçar de garfo e faca, sozinho, num local onde me conhecessem, servissem bem e (sobretudo) não me chateassem.

Mas também onde não me conhecessem demasiado bem, porque a familiaridade amiga nestas alturas em que um gajo está mais para o cinza escuro do que para o branco pode ser intrusiva e até contraproducente.

Tive dificuldade em escolher o poiso, porque das duas uma :  ou me conhecem bem ou não me conhecem.  Mas acabei por decidir num poiso. Cheguei, sentei-me e pedi uma das sugestões do dia:  Língua de vitela estufada com puré de batata.

Era um prato emblemático do velho Funil (não confundir com o atual!!), recordando-me o meu trabalho na Casal Ribeiro e almoços num mundo mais leve e livre de tantos sobressaltos.

A acompanhar um tinto do Dão muito bom: o Quinta de Saes 2011 Estágio Prolongado. Não tão superlativo como o Pellada do mesmo ano, mas muito digno de registo.

Estava tudo bem encaminhado para a minha necessária catarse. Mas esta falhou redondamente por causa do serviço.

O funcionário da sala percebeu que o Cliente (moi) era "dos de gastar".  Pendurou-se à minha mesa (também por falta de trabalho) e nunca mais de lá saiu.
 - "Está a gostar da linguazinha?"
 - "E que tal lhe parece o vinhinho?"
 - " Ainda tem mais lá dentro no tacho!
 - "Acha que devo abrir mais uma garrafinha?"
 - "As nossas sobremesas são todas feitas cá em casa".
 - "Pela mulher do patrão!"

E por aí fora, rematando nos intervalos com o futebol (tentado saber qual era o meu clube para não se esticar ao comprido), com a política (tentando saber para que lado é que eu jogava) e etc, etc...

Pôrra que foi cansativo. Gostei da comida, adorei o vinho. Mas ...tenho de pensar bem se lá volto a entrar...

Mal por mal, quando estiver assim  a precisar de conforto em local onde não me conheçam e amem, vou directo ao Hard Rock Café.

A comida(?) pode não prestar, mas deixam-me numa paz absoluta apenas sobressaltada com os acordes do heavy rock.

Antes isso que ser melgado daquela forma atroz..Pobre Língua de Vaca! Pobre Quinta de Saes!

Mal empregados!

Nenhum comentário: